ABC do Inconsciente – Sintomas: a psicanálise e o tratamento do conflito

ABC do Inconsciente – Sintomas: a psicanálise e o tratamento do conflito

Após suas notas sobre os sonhos, Freud constata o fato de que o mecanismo de formação deles é semelhante ao da formação de sintomas: em ambos podemos reconhecer o resultado de um antagonismo entre duas tendências: uma inconsciente e reprimida, mas que busca a satisfação de um desejo, e outra consciente, que faz parte do Eu e reprime essa tendência desejante anterior. Por exemplo, quando dizemos conscientemente que queremos muito uma coisa e acabamos fazendo outra, há duas tendências em jogo e o resultado acaba sendo algum tipo de sintoma – uma formação compromisso – que envolva o movimento de fazer esse algo e de não fazer esse algo ao mesmo tempo.

O resultado desses conflitos são os sonhos e os sintomas, levando Freud a concluir que as neuroses são expressões de conflitos entre o Eu e impulsos “desejantes” que são incompatíveis com a integridade do Eu e suas exigências das mais diversas ordens (subjetivas, morais, éticas). Assim, o Eu atua como um repressor de impulsos que não se alinham com ele, o que Freud denomina repressão. Tanto os sonhos como os sintomas nos ajudam a falar sobre nosso mundo interno e alcançar camadas psíquicas que movimentam nosso desejo.

A psicanálise opera, portanto, com a suposição da existência de processos mentais inconscientes, e, reconhecendo as dificuldades de acessá-los, cria manejos para penetrar e acessar as palavras presas nos sintomas. 

Nesta parte do contexto em que estamos, Freud nos diz que um dos fundamentos de sua teoria e técnica é a transferência, sendo ela “o mais poderoso auxiliar do tratamento nas mãos do analista e desempenha, na dinâmica do processo de cura, um papel que dificilmente  se pode exagerar”. A transferência é que o paciente traz de sua relação com o Outro para aquele que interage. Já falamos sobre ela nesse blog também. O tratamento psicanalítico se dá através do manejo desta. A partir de sua posição qualificada, o analista pode trabalhar as tramas relacionais que o paciente o envolve em transferência, ajudando-o a elaborar sua relação consigo e com o Outro (que sempre se confundem) em relação a bússola de seu Desejo e suas dificuldades.

Mais uma vez a psicanálise nos leva a reconhecer o ser humano como ser de conflito, dividido, que não tem descanso em seu trabalho psíquico no que diz respeito a ter de lidar com as dificuldades da vida, desde perdas inevitáveis até repressões éticas, morais e culturais. Essas experiências impõem desafios significativos na sua jornada de como viver e de como sofrer, tornando trabalhoso o processo de se orientar no mundo, fazer escolhas e lidar com Desejo em suas dimensões mais complexas e difíceis. 

 

Referências:

Sigmund, Freud. Psicologia das massas e análise do Eu. Companhia das Letras.

 

Patrícia Andrade

Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

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