Ansiedade Climática

Ansiedade Climática.

A saúde mental de qualquer pessoa sempre deve ser avaliada amplamente, considerando múltiplas questões: uma delas é a questão ecológica. Devemos nos perguntar: de que maneira as relações ecológicas estão presentes no meio em que vive um indivíduo e como ele é afetado por ela objetivamente e subjetivamente?

Podemos dizer que uma pessoa está sofrendo de “ansiedade climática” ou “eco-ansiedade” quando seu sofrimento (geralmente medo, pânico, estresse ou depressão) está fortemente relacionado à questões da crise climática.

As mudanças climáticas – bem como as decisões políticas que envolvem o meio ambiente e o futuro das novas gerações – têm desencadeado consequências mais  intensas na vida de pessoas socialmente mais vulneráveis, enquanto os mais privilegiados são menos afetados – diga-se de passagem – por tragédias ambientais, ondas de frio e calor ou alterações no regime de chuvas devido ao desmatamento da Amazônia.

Se usamos a palavra nostalgia para descrever o sentimento de saudade de uma memória, agora temos também o termo “solastalgia”, uma espécie de nostalgia de uma ideia confortável de mundo e futuro que sabemos que não mais existirá, porque as consequências climáticas dos danos causados pelo sistema capitalista à natureza estão cada vez mais se afirmando e se materializando em nosso dia a dia.

A crise climática aponta para um futuro perigosamente hostil nas próximas décadas. Crianças e jovens como Greta Thunberg lutam para que os adultos de hoje tomem decisões mais ecológicas e cuidem do futuro a ser herdado por crianças e jovens. Eles estão preocupados com o que os aguarda, pois já no presente o planeta anuncia consequências difíceis e, se nada mudar na lógica do sistema em que vivemos, as consequências serão progressivamente mais intensas e hostis.

O futuro está ficando cada vez mais previsível e determinado, no sentido distópico mesmo. Pode-se dizer que o sistema está exterminando a cada dia as possibilidades de vivermos num planeta menos hostil, encurralando o futuro entre possibilidades menos diversas e mais homogeneamente distópicas.

Ficar ansioso ou deprimido com a perspectiva de um futuro hostil pode ser sinal de sanidade. Mas precisamos, é claro, encontrar maneiras de lidar com essa ansiedade coletivamente –  se não quisermos ser engolidos por ela.

 

Patrícia Andrade

Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

 

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