Mulheres na Psicanálise: Marie Bonaparte

Marie Bonaparte (1882-1962): a primeira psicanalistas francesa.

Marie Bonaparte era sobrinha-bisneta de Napoleão I da França e foi a primeira psicanalista francesa, publicou vários trabalhos próprios e traduziu a obra de Freud para o francês. Na França, foi representante do pensamento Freudiano e fundou, juntamente com alguns outros colegas, a Sociedade Psicanalítica de Paris (1926), a Revista Francesa de Psicanálise (1927) e o Instituto de Psicanálise (1934).

Seu contato inicial com a psicanálise se deu ao ler “Conferências Introdutórias sobre Psicanálise”, que havia sido publicada em francês em 1924. A partir desse encontro e da indicação de um amigo foi procurar Freud para iniciar sua análise aos 43 anos.

Deprimida e já interessada em psicanálise consultou-se para o tratamento de uma “frigidez”. Como mudou-se para Viena a fim de se analisar, seu primeiro período de análise durou dois meses e após este período ela retornou a França se deslocando a Viena regularmente por algumas semanas para as sessões com Freud.

Grande adepta da escrita de seus sentimentos, pensamentos e sonhos, um caderno com suas anotações da infância e adolescência foi de grande importância em sua análise. Segundo ela “A salvação seria, contudo, extrair da mágoa, uma narração”.

Pelo seu interesse na psicanálise tornou-se amiga de Freud e uma de suas interlocutoras acerca da teoria, principalmente no que dizia respeito a enigmática sexualidade feminina, questão que se colocava também em sua vida pessoal. Desenvolveu estudos sobre o orgasmo feminino e sua relação com o clitóris e a vagina. Por sua amizade com Freud e seu interesse no avanço e divulgação da psicanálise, em diversas vezes Marie fez contribuições financeiras com o intuito de preservar a imagem e de avançar o campo da psicanálise, como quando salvou a editora psicanalítica da falência, quando fez doações a Revista Francesa de Psicanálise ou quando comprou e guardou as cartas de Freud a um amigo para publicação futura pensando na importância documental a psicanálise. Além disso, sua influência ajudou Freud e sua família a escapar da Viena ocupada pelos nazistas.

As cartas compradas por Marie Bonaparte foram escritas por Freud a Fliess, um grande amigo a quem ele confidenciou o que estava vivendo em relação à teoria, ao movimento psicanalítico e suas lembranças infantis. A princípio o autor das cartas queria que elas fossem queimadas, pois a venda dessas cartas fazia parte de uma chantagem. Mas Marie não só comprou as cartas como convenceu Freud de sua importância histórica para a psicanálise, sugerindo e garantindo que elas fossem guardadas e publicadas somente após o falecimento do mesmo. Assim foi feito e até hoje essas cartas são importantes documentos sobre o pensamento freudiano e a história da psicanálise.

A princesa Marie Bonaparte atendeu como psicanalista até seus 80 anos, encerrando sua clínica devido ao seu falecimento por leucemia em 1962.

Luanda Chamarelli

Psicanalista, psicóloga e mestre em psicologia pela UFF, membro da rede Inconsciente Real e do grupo de estudos “Sonhos”.

Fontes:

GORDON, Alessandra Ricciardi. Marie Bonaparte: princesa e psicanalista. J. psicanal. [online]. 2009, vol.42, n.77 [citado  2021-05-22], pp. 107-121 . Disponível em: <http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-58352009000200008&lng=pt&nrm=iso>. ISSN 0103-5835.

SILVA, Marcus Vinicius Neto; SANTO, Erica Silva Espirito. A história das primeiras mulheres psicanalistas do início do século XX. Disponivel em: <https://core.ac.uk/download/pdf/231230489.pdf>

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