A Viagem de Chihiro

A Viagem de Chihiro

A Viagem de Chihiro” (Spirited Away, Japão, 2001) é um filme de animação dirigido por Hayo Miyasaki, vencedor do Oscar de Melhor Animação (2003). O filme nos leva a uma jornada cheia de aventura, espíritos e criaturas fantásticas.

A protagonista, Chihiro, é uma jovem garota que está de mudança com seus pais. A caminho da nova casa, eles atravessam um túnel e  ficam presos num outro mundo onde coisas estranhas acontecem. Para encontrar uma saída e retornar ao seu mundo humano, ela enfrenta diversos desafios.

No decorrer da narrativa a personagem  passa por uma profunda transformação pessoal. Ela se vê diante de situações desconhecidas e perturbadoras e descobre que todas as criaturas desse mundo mágico não lembram mais o nome que lhes era próprio antes de chegarem ali, e que, por isso mesmo,  não podem sair dessa realidade.

Entre túneis, pontes e elevadores – todos signos de transição – podemos observar como a personagem lida com o que está a sua volta. Ela toma cuidado para não cair em armadilhas e tentações, pois sabe que, se cair, esquecerá seu nome e não poderá retornar ao seu mundo nem salvar seus pais. 

Chihiro encontra diversas figuras durante sua jornada, algumas amigáveis e carismáticas, outras hostis e assustadoras. O personagem mascarado No face (sem rosto) é sem dúvida o mais emblemático. Esse personagem não possui rosto, nome ou voz. O que se pode dizer sobre ele não são definições, mas apontamentos: 

Este é um personagem que sofre com seu vazio existencial. Sem rosto ora  busca desesperadamente a aceitação do outro através de suas generosas ofertas, ora  busca freneticamente uma saciedade que nunca é alcançada, obrigando-o a ingerir tudo que vê pela frente. Nenhum objeto preenche seu sentimento de vazio e ele permanece perturbado.

Mas este personagem também  assume uma identidade serena e inofensiva em outros momentos, principalmente quando está perto de Chihiro.  Ao lado dela ele precisará “aprender” que não é possível preencher o vazio, e que justamente por isso ele precisa buscar o outro: se não temos a completude, nos resta apenas o Desejo e seus filhos, como a busca e a criação.

Esse aspecto duplo faz com que não possamos definir o “sem-rosto”:  ele é mais complexo do que uma definição e isso faz parte do seu simbolismo.

“A Viagem de Chihiro” é um convite à reflexão sobre diversos assuntos, entre eles a Identidade. Sobre o que pode nos aprisionar e o que pode ser transformativo e libertador nisso que chamamos de identidade. 

O filme nos lembra que somos seres complexos e vulneráveis, mas em constante transformação. Críticas e referências ao capitalismo também podem ser observadas no filme.

A maior contribuição da obra de Miyazaki talvez seja realmente mostrar ao espectador que na vida  podemos ser muitas coisas (e não uma só) e que o pior  acontece quando não podemos mais  viajar e  transitar por outras identidades, outros mundos, quando justamente nos encontramos aprisionados num só lugar, num só nome.

Patrícia Andrade

Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

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