ABC do Inconsciente – Pânico

ABC do Inconsciente – Pânico

O pânico pode ser considerado uma reação de angústia extrema diante do desamparo inerente à condição humana. Essa expressão, que já existia na área da  psicopatologia desde Freud (1920), é utilizada tanto para descrever um medo coletivo (que se dá em massa) quanto para designar um medo individual que excede limites e transborda para o corpo, provocando uma experiência de desorganização mental, terror e morte.

O estado de pânico costuma se manifestar quando um sujeito se depara com a percepção (ainda que inconsciente) de que estamos vulneráveis a situações terríveis e ameaçadoras sob as quais não se têm controle, onde sente-se no duro a impotência diante da vida.  Junto com ele se manifestam sintomas físicos, como taquicardia, sudorese, falta de ar, tremores e pensamentos catastróficos. É comum pessoas em ataque de pânico dizerem que estão enlouquecendo ou que estão morrendo (sensação de morte iminente).

Essa angústia frequentemente surge de súbito, sem causa aparente ou consciente para o sujeito. No entanto, a experiência clínica indica que ele geralmente ocorre após um evento traumático que confirma a natureza incerta, imprevisível e ameaçadora do mundo. Algo desaba e provoca pânico (e pane) no sujeito. Freud dizia que era como se algo desabasse repentinamente e derrubasse a unidade de uma  estrutura, levando a uma condição afetiva terrificante, desorganizando o sujeito psiquicamente.

Não é equívoco dizer que são nossas ilusões que desabam nessa crise. O que achávamos que era seguro se revela precário. O que achávamos que era garantia, se revela furado. Se não há completude, somos todos furados, por isso procuramos nossas boias e fabricamos ilusões a partir delas.  É claro que precisamos ser ativos diante da vida e buscar nossas garantias mínimas de controle. O problema do pânico é mais complexo pois gira em torno de um susto existencial ou de um trauma que precisa ser falado e elaborado.

Essa ilusão que desaba também pode ser chamada de “objeto fiador da estabilidade do mundo”. Geralmente esse objeto é uma situação estável ou uma figura que sustenta uma ilusão de proteção, controle e estabilidade em relação a algum aspecto da vida, servindo portanto como uma muleta emocional. Sensível às incertezas da vida e à certeza da morte, o sujeito se agarra a esse objeto fiador, pois este o deixaria acima das ameaças insuportáveis do desamparo.

Segundo Pereira, enquanto esse objeto desempenhar seu papel tranquilizador, sustentando uma ilusão de controle e estabilidade do mundo, a pessoa pode viver temporariamente livre do pânico, ainda que de forma dependente e alienada.

Bom, o problema dessa alienação é que a derrocada virá em algum momento e o pânico se instaurará…a Verdade sobre o desamparo, que infelizmente está aí, precisa ir do corpo à palavra.

O pânico que se torna recorrente pode ser tratado em sua via psiquiátrica farmacológica, mas também precisa ser posto em narrativa.

Na análise, é fundamental inscrever esses ataques em uma relação com a subjetividade e história de cada um. Através da cura pela fala, buscamos compreender e enfrentar o desamparo de forma criativa e poética, tentando transformar esse desespero em criatividade simbólica e auto engendramento.

Compreender que o pânico está relacionado à condição humana de desamparo pode ajudar a normalizar a experiência e reduzir o estigma associado a essas reações emocionais.

 

Bibliografia

Pereira, C. M. Pânico e desamparo. Editora escuta.

 

Patrícia Andrade

Psicanalista e psicóloga, aprimorada em Saúde Mental pelo Instituto A Casa e membro da rede Inconsciente Real

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